domingo, 28 de novembro de 2010

OS LEÕES DA MÚSICA SERTANEJA

 




Letra de Rastros na Areia e clipe abaixo
xxxxxxxxxx

 
 
 
   José Trindade, o Duduca, nasceu em Anápolis, Goiás, no dia 04 de julho de 1936 e desde menino se revelou interessado pela música. Com apenas 15 anos de idade já compôs Saudade do Meu Bem, que em 1962 acabou gravando pela Continental em disco 78RPM.
A primeira gravação não obteve grande sucesso, mas alavancou Duduca como compositor, sendo a partir daí procurado por outros intérpretes e acumulando com isso grande número de obras gravadas.
 Com 18 anos José Trindade veio, como outros artistas que não nasceram em berço de ouro, tentar a sorte na cidade grande. Trabalhou por mais de 15 anos como pintor de paredes, mas sempre se dedicando à música nas horas vagas.
 Em 1975 começou a fazer roteiros e trilhas sonoras para cinema e foi dessa maneira que conheceu José Gomes de Almeida, o Dalvan. Isso foi no ano de 1977, quando os dois atuaram juntos no filme Entre o Céu e o Inferno de Camanducaia.
Eles se tornaram amigos e, como não podia deixar de ser, nos intervalos das gravações, pegavam os violões e cantavam para passar o tempo. E logo eles e os que os ouviam perceberam que as vozes se harmonizavam perfeitamente, surgindo daí a dupla, que no início teve o apoio de Lourival Santos.
 Dalvan nasceu na cidade de Planaltina, Paraná, no dia 09 de outubro de 1951, e foi criado em Paranavai. Como Duduca, desde cedo ele demonstrou seu dom para a música, tendo sido vocalista de conjunto, baterista, guitarrista, além de dominar perfeitamente o violão, órgão, piano e acordeão. Dalvan era um virtuose instrumental.
 Sua primeira composição foi feita aos 20 anos de idade e o título era Batucada de Malandro. Ficou engavetada, pois Dalvan logo prestou o serviço militar em Brasília e depois ingressou na Polícia Militar, onde ficou apenas três anos, pois o seu negócio não era prender bandido, e sim,  prender corações através das suas canções. A PM perdeu um bom soldado e o mundo sertanejo ganhou a dupla Duduca e Dalvan.
 Começaram a fazer tournês ainda em 1977, e conquistando aos poucos seu grande público. Em 1978 gravaram seu primeiro LP, já conseguindo os primeiros lugares das paradas musicais com a música Pirâmide do Amor.
 Em abril de 1979, em novo LP, estourava a Quem Sou Eu e, já em janeiro de 1980, a consagração definitiva com Mulher Maravilha.
 Ainda em 1980,  a dupla  gravaria em setembro seu quarto LP, conquistando de vez seu lugar entre as grandes duplas sertanejas da época.
 Mas, infelizmente, após terem feito sucessos de raízes rurais e românticas - e quando estavam em ótima fase - aconteceu a inesperada morte de Duduca em 17 de fevereiro de 1986. A dupla, que teve início em 1977, terminou tristemente em 1986, apenas 9 anos depois. 
 Dalvan, então, após um tempo afastado, entristecido pela morte do parceiro, reciclou sua carreira, que agora seria solo: deixou crescer ainda mais os cabelos, substituiu a linguagem rural por um rock de subúrbio, com romantismo brega, e a partir do próprio disco que chamou de "Novo Rumo" buscou ainda mais o lado romântico. 
 Deu certo. De cara foi contemplado com um duplo de platina, pela vendagem de 500 mil cópias em 1987. Em 1988, catapultou novos êxitos como "Haja Coração", "Gosto de Pecado" e "Mal de Amor". Em 1989 foi a vez de "Desencontros". 
 Em 1990, adotou o estilo de espetáculos de grande produção, com som, luzes e enorme aparelhagem de som. Seu novo disco refletiu essa fase megalomaníaca: o repertório (montado com composições de autores como Ed Wilson, Chico Roque, Moacyr Franco e outros), e até uma versão de "O Sole Mio" (ao estilo de Elvis Presley) teve arranjos de quatro maestros - Daniel Salinas, Martinez, Waldomiro Lenk e José Paulo Soares. 
 E após tudo isso, Dalvan entra também, como vários outros artistas de sua época, no ciclo religioso, cantando hinos e chegando inclusive a fazer uma apresentação ao vivo no programa do missionário R.R. Soares, na tevê Bandeirantes. 
 Mas Dalvan ainda tinha o coração nas músicas da sua fase de ouro junto com o parceiro Duduca, e assim, após muitos anos, resolveu voltar às suas raízes, formando dupla com Almir Sales, outro paranaense nascido na cidade de Londrina. Almir Sales tem 46 anos, é dono de uma voz invejável, pois, em sua trajetória na música sertaneja, cantou em barzinhos e foi locutor de radio AM e FM. A música sempre foi o seu forte. Essa nova formação da dupla é um presente para o Brasil e a música sertaneja, que ganhará com certeza, tratando-se de uma das bandeiras da música popular do Brasil, voltando ao cenário da música brasileira. 
 Dalvan entrou em acordo com Almir Sales e assim, numa justa homenagem ao parceiro que se foi, Almir se tornou o novo Duduca, dando sequência a bem sucedida carreira da primeira dupla. Dalvan, romântico pôr excelência, disse que esse novo trabalho marca uma nova fase na sua vida.
 
Biografia – Chantecler-1981- Colaboração: Neubes Luciano
Rastros na areia
Gravação original de Duduca e Dalvan - Ouvir música abaixo
Baseado no poema de Margaret Fishback Powers O sonho que tive esta noite
Foi um exemplo de amor
Sonhei que na praia deserta 
Eu caminhava com Nosso Senhor
Ao longo da praia deserta
Quis o Senhor me mostrar
Cenas por mim esquecidas
De tudo que fiz nesta vida
Ele me fez recordar
Cenas das horas felizes 
Que a mesa era farta na hora da ceia
Por onde eu havia passado 
Ficaram dois pares de rastros na areia 
Então o Senhor me falou
Em seus belos momentos passados 
Para guiar os seus passos 
Eu caminhava ao seu lado
Porém minha falta de fé 
Tinha que aparecer
Quando passavam as cenas 
Das horas mais tristes de todo meu ser
Então ao Senhor reclamei
Somente meu rastro ficou
Quando eu mais precisava
Quando eu sofri e chorava 
O Senhor me abandonou
Naquele instante sagrado
Que Ele abraçou-me dizendo assim
Usei a coroa de espinhos 
Morri numa cruz e duvidas de Mim 
Filho esses rastros são Meus 
Ouça o que vou lhe dizer
Nas suas horas de angústia
Eu carregava você 





Fontes: Jornal O Estado do Paraná, http://letras.terra.com.br/duduca-e-dalvan/144954/ - Youtube
ESPECIAIS
GRANDES MATÉRIAS
MUNDO SERTANEJO
NOSSOS HERÓIS
OS REVOLUCIONÁRIOS
ARTIGOS E CRÔNICAS
CLIPES E MÚSICAS
CONTOS
HOME PAGE
Copyright 2003/2010 - Sergio Ferraz - Todos os direitos reservados


Os grandes talentos que não pode ser esquecido

 
ZÉ CARREIRO E CARREIRINHO conheça mais
FLORENCIO , TIÃO DO CARRO, BAMBICO ,JULIÃO,...,  conheça mais
ROBERTO CORREIA  conheça mais
HELENA MEIRELES  conheça mais
RENATO TEIXEIRA conheça mais
TIÃO CARREIRO E PARDINHO conheça mais
ALMIR SATER conheça mais
IVAN VILELA conheça mais
ELOMAR (LETRAS ) conheça mais
VITAL FARIAS (LETRAS E CIFRAS) conheça mais
 
ESTAMOS PESQUISANDO  : FLORÊNCIO, BAMBICO, JOÃO MULATO,JULIÃO, ZÉ DO RANCHO..
VISITE TAMBÉM   COMPOSITORES PARA SABER MAIS DESTES MESTRES DA VIOLA
 
Página Inicial 1° Geração 2° Geração 3° Geração 4° Geração Letras e Cifras Aulas e Dicas Ponteados e Solos Letras da Dupla
 
 
ZÉ CARREIRO E CARREIRINHO
Os violeiros 

Florêncio ( João Batista Pinto) – nascido me Barretos-SP em 1910 , principal parceiro de Raul Torres . Criou inúmeras introduções e acompanhamentos de viola para os clássicos de João Pacifico.
 
Tião do Carro ( João Benedito Urbano) – nascido em Vargem Grande do Sul-SP em 1946 , formou dupla com Mulatinho, gravou viola nos discos de Tião Carreiro , Rolando Boldrin. Foi uns dos violeiros que mais gravou e criou ponteados em gravações de estúdio , fez um disco em 1980 “Uma Viola na Saudade”.
 
Zé do Rancho – nascido em Guapiaçu -SP em 1927, solista de viola , formou trio com Serrinha e Rielinha .Foi de grande importância nas gravações de viola em estúdio .
 
Juilão – nascido em Sorocaba-SP ,foi grande violeiro de estúdio, criou as introduções de Peito Sadio , Boiadeiro Errante. Gravou dois discos solos .
 
Lauripio Pedroso – nascido em Sorocaba-SP , da dupla Irmãos Divino , criou os ponteados de Relógio Quebrado , foi ultimo parceiro de Teddy Vieira , faleceram junto num acidente de carro na Castelinho.
 
Zé Coco do Riachão – nasceu em Brasília de Minas-MG em 1912, foi descoberto aos 65 anos , gravou Brasil Puro em 1980 , Zé Coco do Riachão em 1981 e Vôo das Garças em 1987.
Gedeão da Viola –nasceu em Limeira-SP , foi menino dançador de catira , luthier de viola , lançou o Cd Solos de Viola com a música Pau-Brasil que foi tema do programa Viola Minha Viola.
 
Mazinho Quevedo –nasceu em Adamantina-SP , radicalizado em Araras, foi aluno de Gedeão , tem três Cds gravados .
 
Bambico- nasceu em Umuarama-PR , foi de grande importância na criação do pagode , gravou viola para Jacó e Jacozinho e Tião Carreiro , fez dupla com Bambuê  , gravou Brincando com a Viola na Chantecler .Foi grande amigo de Tião do Carro. Foi um grande criador de introduções para Tião Carreiro.
 
Nova Geração de Violeiros
 
Ivan Vilela , Brás da Viola , Roberto Correa , Paulo Freire e ao fundo Pereira da Viola.
 
Juliana Andrade- nasceu em Taboão da Serra-SP , lançou seu Cd em 1998 .
 

ROBERTO CORREIA
Físico e músico, nascido em Campina Verde, no Triângulo Mineiro, residente em Brasília desde 1975, Roberto Correia    oriundo de uma tradicional família de violeiros.
primeiro concerto em Brasília. No mesmo ano, editou o livro "Viola Caipira". Desde então, vem se apresentando em recitais e ministrando cursos sobre a música caipira, viola caipira e viola de concho (típica do pantanal mato-grossense), do Brasil e no exterior, destacando China, Japão, Alemanha, Itália, Portugal, Cuba, México, além de países das Américas do Sul e Central. Gravou os LPs "Marvada Viola" (1987), "Viola Caipira, Um Pequeno Concerto" (1988), "Drummond de Andrade" (1989), "Viola Andarilha" (1989), e diversos CDs, como "Uróboro" (1994), "Crisálida" (1996), "Voz e Viola" (ao lado de Inezita Barroso, com quem ainda gravou "Caipira de Fato" no ano seguinte, disco que ganhou prêmio Sharp) e "No Sertão" (com quinteto de cordas), em 1998, além de trabalhos para o mercado externo. Registrou ainda em vídeo sua pesquisa sobre o instrumento em 1992. Participou da coletânea "Violeiros do Brasil", ao lado de outros 13 colegas do gênero, em 98. No ano seguinte, lançou o CD "Sertão Ponteado".
 
HELENA MEIRELES
Nasceu numa fazenda no pantanal do Mato Grosso do Sul e cresceu rodeada de peões, comitivas e violeiros. Fascinada pelas violas caipiras, a família não permitia que aprendesse a tocar, o que acabou fazendo por conta própria, às escondidas. Aos poucos ficou conhecida entre os boiadeiros da região. Casou-se por imposição dos pais aos 17 anos, abandonando o marido pouco tempo depois para juntar-se a um paraguaio que tocava violão e violino. Separou-se novamente e, resolvida a tocar viola em bares e farras, deixou os filhos dos dois casamentos com pais adotivos e ganhou a estrada até encontrar o terceiro marido, com quem está junto há mais de 35 anos. Depois de desaparecer por mais de 30 anos, foi encontrada bastante doente por uma irmã, que a levou para São Paulo, onde foi "descoberta pela mídia" a partir de uma matéria elogios a na revista norte-americana "Guitar Player". Apresentou-se em um teatro pela primeira vez aos 67 anos, e gravou discos em seguida. Foi escolhida em 1993 pela Guitar Player como uma das "100 mais" por sua atuação nas violas de 6, 8, 10 e 12 cordas
RENATO TEIXEIRA
 
Começou a compor na adolescência, quando morava no interior de São Paulo. Na década de 60 mudou-se para a capital do estado e classificou a música "Dadá Maria", interpretada por Gal Costa (na época ainda Maria da Graça) no festival da TV Record de 1967. No mesmo festival, no ano seguinte, Roberto Carlos foi o intérprete de "Madrasta" de sua autoria. Ficou famoso por ser o compositor de "Romaria", gravada por Elis Regina em 1977. Com a fama, lançou no ano seguinte "Romaria", seu terceiro LP solo e primeiro a ter alguma repercussão. Atuando como modernizador da música regional e caipira, sem descaracterizá-las, participou de coletâneas e gravou o CD "Renato Teixeira e Pena Branca & Xavantinho", em 1992. Participou também, ao lado de Xangai, Cida Moreira, Elomar, Geraldo Azevedo, Sivuca e outros, do disco "Cantorias e Cantadores", lançado em 1997.
 
TIÃO CARREIRO E PARDINHO
 
Tião Carreiro- nasceu em Monte Belo-MG, aos cinco anos , veio para Araçatuba ,foi criado numa fazenda paulista . Tocava em circos na região de Araçatuba , tocava violão , decorou a afinação da viola num show de Tônico e Tinoco passando as mãos nas cordas no camarim , admirava Florêncio o violeiro de Barretos de quem ganhou a famosa viola vermelha. Esta enterrado em São Paulo .Para ele ninguém tocava melhor que os violeiros de Barretos. Em 1955 mudou-se de Araçatuba para Val Paraíso . Em Pirajuí num circo conheceu Pardinho –nascido em São Paulo em 1932 , com que formou a dupla Tião Carreiro e Pardinho. Começaram a vida no circo Rapa Rapa , como ele mesmo dizia no circo “Nos éramos violeiros , cantores e amarra cachorro” , depois de seis meses vieram para São Paulo , até então Tião era Zé Mineiro , porém sua primeira gravação foi com Carreirinho substituindo o consagrado Zé Carreiro que estava doente , herdou o nome Carreiro e gravou 78RPMs dos quais a Continental selecionou 14 músicas para o Lp Meu Carro é Minha Vida  lançado em 1962 , a dupla logo se desfez . Aí Tião carreiro e Pardinho gravaram seu primeiro sucesso “Cavaleiros do Bom Jesus” e “ Boiadeiro Punho de Aço”ambas de Teddy Vieira . O sucesso veio com “ Alma de Boêmio” cantando tangos e canções rancheiras . Em 1961 lançou o Rei do Gado de Teddy Vieira e seguiram com grandes sucessos.Em 1965 com a morte de Teddy Vieira , na gravação do programa Canta Viola de Geraldo Meireles na Cultura de São Paulo , Tião interrompeu com lágrima nos olhos , prestando desta forma sua homenagem ao compositor de Itapetininga , que o lançou em disco.
    Em 1966 lança o Lp Pagode na Praça , consagrou pagode de viola e a criação de Carreiro , Teddy Vieira , Moacir e Lourival dos Santos  , compositores paulistas que muito contribuíram para o sucesso de Tião Carreiro.
   O Rio de Piracicaba ou Rio de Lágrimas de Piraci , Lourival , Tião Carreiro foi a consagração definitiva da dupla.Tião casara com Nair em Araçatuba em 1954 .
   Em 1979 Tião Carreiro lança um Cd de solo de viola caipira.
   JOSÉ DIAS NUNES, ou TIÃO CARREIRO, nasceu em 13 de Dezembro de 1934 e faleceu em 15 de Outubro de 1993. Era um compositor invejável, e na viola era primeiro sem segundo. Não seria exagero chamar o Rei do Pagode também de o Rei da Viola ou o Rei dos Violeiros, já que foi ele quem deu à viola e à moda de viola status e sua devida importância. Ele estava para a Viola assim como Pelé está para a bola. Que o diga Almir Sater, um de seus mais fiéis pupilos. Conta-se que depois de ouvir Tião tocar, Almir por pouco não desistiu da carreira de violeiro. A viola nas mãos mágicas de Tião Carreiro parecia ganhar vida própria, pois tão bem se entendiam. Fez escola! Cantou sob os pseudônimos de Zezinho, Palmeirinha, Lenço Preto e Zé Mineiro. Fez dupla com Lenço Verde, Lenço Branco e Zé Mineiro. Lenço Verde e Coqueirinho eram a mesma pessoa, Waldomiro, um primo de Tião. Nos anos 50, conheceu Diogo Mulero, o Palmeira , que o apresentou a Teddy Vieira, e este lhe deu a oportunidade de gravar o seu 1º disco , e o batizou de Tião Carreiro. Depois de gravar com Carrerinho; fez dupla com Pardinho (que foi o parceiro que mais o completou); Paraíso e por final Praiano.
ANTÔNIO HENRIQUE DE LIMA, ou PARDINHO,nasceu  em São Carlos , em 14 de agosto de 1.932. Mestre no Violão, sua destreza nos solos podem ser ouvidas em seus discos gravados. Dono de um compasso incomparável, soube como ninguém dar a base perfeita para os solos de viola de Tião. Em todas as duplas que formou, fez sempre a primeira voz. Após o rompimento da parceria com Tião, fez dupla com Pardal e depois com João Mulato.
     Tião Carreiro e Pardinho, merecidamente cominados "Os Reis do Pagode", são inegavelmente os maiorais desse gênero musical paulista, criado por Teddy Vieira (1922/ 1965) e Lourival dos Santos, em agosto de 1960. Em 1.954 se conheceram, e, em 1.956 gravaram o 1º de uma série de 15 discos de 78 Rpm .A partir daí, nasceu a dupla de maior fenômeno da música raiz. Tornaram-se ídolos! Cantaram em circos, cinemas e teatros, e por muitas vezes se viram forçados a repetirem seus espetáculos em duas ou três sessões. Apresentaram-se em quase todas as cidade interioranas de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás e Paraná. Dupla simples e amiga de todos, chegavam a se misturar à multidão admiradora, dada a sua simpatia e naturalidade. Freqüentemente encontravam-se com um sorriso nos lábios. Foram Artistas exclusivos da Gravadora Chantecler. Tinham seus discos rapidamente esgotados e tudo que faziam eram pensando em proporcionar melhor qualidade artística ao seu imenso público.
 
O Pagode
 

     Bem antes, no começo de tudo, pagode era sinônimo de zoada feita no fundo do quintal. Como o samba. No fundo do quintal se costumava tocar, cantar, dançar, comer e beber. Num tempo não muito longe, pagode era, pois, o mesmo que festa, festança. Das mais puras, longas e bonitas. Varavam madrugadas inteiras. A cachaça dava no meio da canela. Sem forrobodó. - "Vamo prum pagode?" - Já se sabia: Vamos a uma festa na casa de fulano de tal. Pagode também é o mesmo que templo, construção suntuosa, grande, comum em alguns países asiáticos, onde pratica-se o exercício de adoração a deuses, figuras imponentes que o imaginário popular põe acima do bem e do mal. Há pagodes na China e no Japão, por exemplo. Fora isso, pagode é verbo intransitivo direto. Diz-se: - "Vamo pogodeá?" Quer dizer, vamos farrear, foliar, vadiar, festejar qualquer coisa. O termo ou expressão pagode também pode ser empregado no sentido de zombaria ou desfeita. Fulano é um tolo, vive no pagode. Coisa de vagabundo. Porém, o PAGODE também é um gênero musical muito bonito, como o baião, o forró, o batuque, o samba ou mesmo a bossa nova.
 
A História do Pagode
 

    
Entre janeiro e fevereiro de 1959; o mineiro de Montes Claros Tião Carreiro (José Dias Nunes) e o paulista de Bofete Carreirinho (Adauto Ezequiel) compuseram e gravaram, no dia 3 de março desse mesmo ano, uma musica a que deram o curioso titulo de Pagode, uma espécie de recortado sem ser recortado, que é uma forma de dança (e música) bastante comum no interior de São Paulo e outras regiões do país, como Rio de Janeiro e Minas Gerais. Foi aí que um compositor genial, Lourival dos Santos, chamou seu amigo Teddy Vieira a um canto prum dedo de prosa. Conversa vai, conversa vem, Tião foi chamado também para alguns esclarecimentos e troca de idéias. Logo após esse encontro, Teddy e Lourival compuseram, num novo ritmo (pagode) Pagode Em Brasília, originalmente gravado por Tião Carreiro e Pardinho há mais 34 anos. A criação desse gênero musical coincidiu com a inauguração de Brasília, o que levou seus autores a serem homenageados pelo presidente da República, Juscelino Kubitschek.

Os Criadores do Pagode

Teddy Vieira, cujo nome completo era Teddy Vieira de Azevedo, nasceu na cidade paulista de Itapetininga no dia 23 de dezembro de 1922 e morreu em 1965, no dia 16 de dezembro. Deixou cerca de 200 composições de sua autoria gravadas pelos mais destacados intérpretes da chamada música caipira. Lourival dos Santos, um paulista de Três Barras, distrito de Guaratinguetá, nasceu no dia 11 de outubro de 1917 e compôs, até agora, algo em torno de 1.300 músicas. Entre seus vários parceiros. destacam-se o próprio Teddy, Sulino, Raul Torres, Piraci, Jacó, Serrinha., Téo Azevedo, Jorge Paulo e, naturalmente, Tião Carreiro. - "Muita gente me pergunta como foi que aprendi a tocar viola. Praticamente aprendi sozinho, nunca tive um professor. No ano de 1950 eu tinha apenas 13 anos e cantava no Circo Giglio. O nome da dupla que eu formava era Palmeirinha e Coqueirinho e o proprietário do circo me disse que a dupla 
de violeiros tinha que tocar viola e, na época, eu tocava violão. No mesmo ano veio cantar neste circo a dupla "Coração do Brasil"  Tonico e Tinoco, na cidade de Araçatuba, em São Paulo. Durante o tempo em que eles estavam no hotel, Tinoco deixou a viola no circo e eu decorei a afinação escondido. Logo em seguida, ganhei uma violinha de presente, que foi pintada pelo Romeu, pintor lá de Araçatuba. A partir dai, me inspirei num dos maiores violeiros da época, Florêncio, da dupla Torres e Florêncio, infelizmente já falecidos, è hoje tenho a felicidade de ter a viola vermelha que pertenceu a ele .
Aproveito a oportunidade para agradecer a meu grande amigo Moreno, da dupla Moreno e Moreninho, que me cedeu a viola. Fiz uma grande homenagem, compondo juntamente com Jesus Belmiro uma moda com o título de "Viola Vermelha ". A minha homenagem a todos que abraçam e tratam a viola com carinho. Vou citar alguns nomes, como Almir Sater, Renato de Andrade, Zé do Rancho, Tião do Carro, Bambico, Airtom Vieira, Roberto Correia, Divino, Ronaldo da Viola, Goiano, maestro Oscar Safuan, Itapuã e Moreno. O sertanejo representa tudo para mim, porque eu vivo da música sertaneja, admirada por este povo. Além disso, eu praticamente vim da roça, comecei ainda pequeno, com uns 8 anos, a cuidar do arado e tocar violão. Gosto muito do homem do campo pela sua sinceridade, sua pureza, sua humildade. Isso faz com que eu o admire e respeite." José Dias Nunes, o Tião Carreiro , Montes Claros, MG, 1934.

    Antônio Henrique de Lima, o Pardinho, São Carlos, SP, 1932.

    Entre as novas duplas surgidas a partir da década de 50, Tião Carreiro e Pardinho São importantes a ponto de Nonô Basílio, caipira compositor e que trabalhou em diversas gravadoras, colocá-los em 1976 no primeiro lugar de sua lista de campeões de vendagem de discos, seguidos por Leo Canhoto e Robertinho e Lourenço e Lorival. quando se formou, em 1956, a dupla já acumulava extensos currículos individuais. Tião Carreiro, com o nome de Zezinho, fizera dupla com lenço verde ; foi também o Palmeirinha, em dupla com coqueirinho ; depois mudou Zé , para fazer dupla com Tietezinho e por fim substituiu Zé carreiro, adotando definitivamente o pseudônimo de Tião Carreiro. Pardinho começara cantando com Miranda, depois fizera dupla com Zé carreiro, vencendo o torneiro de violeiros realizado em 1956 pela rádio tupi de São Paulo. lá foram convidados por Teddy vieira para gravar na Columbia (atual Cs). em seguida Zé carreiro resolveu reviver a dupla com Carreirinho , e Pardinho topou o convite para cantar com Tião Carreiro. seu primeiro sucesso foi cavaleiro do bom Jesus ( João Alves-nhô Silva- Teddy Vieira). passando para a chantecler, a dupla gravou numerosos Lps, e entre seu repertório se destaca a beleza só ponteio, biografia de Tião Carreiro, letra do capitão furtado e música do próprio Tião . em 1970 a dupla atuou como intérprete principal do filme sertão em festa, dirigido por Osvaldo de oliveira . seu maior sucesso avulso é rio de lágrimas ( também conhecido como rio de Piracicaba ) , de Piraci- Lorival dos santos- Tião Carreiro ). e o lp de maior vendagem intitula-se levanta, patrão . Paulatinamente, a industria da produção musical caipira passou a trazer seus efeitos. em primeiro lugar , em contato com o mercado fonográfico, começou a abrir-se a novas influências, provenientes do meio rural de outros países. ("o rural é rural - diria um compositor caipira - no Brasil, nos estados unidos ou na china") . veio a guarânis paraguaia, o boleiro, a influência mexicana pelas canções de Miguel Aceves Majias, e a do meio-oeste americano. o cantor Bob Nelson fez muito sucesso apresentando-se como cow-boy e vertendo para o caipira a musica rural dos estados unidos. 
Dessa forma, embora permanecessem os ritmos caipira - a moda - de viola, o cateretê, o cururu, a cana-verde, a moda campeira e o arrasta-pé -, o gênero estendeu-se muito mais, até incluir degenerações urbanas - como o iê-iê-iê .
 Outra conseqüência da industrialização da música caipira foi a constatação de que seu público era muito pouco sensível a modismos passageiros. os discos do gênero, ao invés de apresentarem uma aguda de vendagem, atingindo o ápice para depois descer para o completo esquecimento, mantêm-se firmes por anos ou décadas, o que. Aliás, demonstra sua radiação cultural muito mais sólida . Por exemplo, Jorginho do sertão e azul cor de anil ( gravada em 1929). Boi amarelinho, em vez de me agradecer (estréia em disco de Tonico e 
Tinoco) e muitas outras produções da década de 30, continuam sendo editadas, com vendagem segura e firme. e não se trata de casos esparsos: Tião Carreiro e Pardinho gravaram quase trinta Lps, e todos eles ainda sustentam vendagem e continuam em catálogo .

    Essa circunstância não atenuou o preconceito das emissoras de rádio, das gravadoras e da TV contra a música caipira. muito ao contrário, logo a manutenção do preconceito se mostraria bastante lucrativa: os artistas caipiras, segredos do restante da música popular, podiam receber menos, garantir a baixo preço boas audiências em horários "infelizes", apresentar-se de graça, em busca de promoção . Empresários ligados a gravadoras continuaram o caminho de Cornélio Pires, mas, levados apenas pelo faro comercial, não arriscariam, preferindo transferir toda a possibilidade do prejuízo para seus contratados, e assumindo apenas os lucros .

    Assim é que promovem caravanas, mas não levam os discos. Levam apenas os artistas que desejam se promover, pagos em comida e alojamento, só depois que estes conseguem prestígio é que promovem a gravação. dessa maneira conseguem shows baratíssimos, para depois editar discos com vendagem já assegurada . E os que cinqüenta anos de fonografia caipira tiveram, em resumo, estas conseqüência, segundo o sociólogo Valdenir "batatais" caldas : · A rápida proliferação das dupla era uma nítida demonstração de que o sucesso discófilo do gênero sertanejo estava assegurado . qualquer investimento nessa modalidade musical significava rentabilidade garantida . e nisso os empresário nunca titubearam. o resultado foi o progressivo crescimento da música "sertaneja" "novo estilo musical" e conseqüente perda de autonomia de seu compositores e cantores, que passavam a produzir não aquilo que sabiam e queriam mas o que lhe era determinado por elementos especializados em mercadologia por elementos "especializados" em detestar o gosto popular.
    Nasce dessa forma, a canção sertaneja de caráter comercial, caráter esse que domina sua existência já desde tenra idade até os dias de hoje . "o meu boi morreu, que será de mim ? " Criou-se a carreira artística de músico caipira, de compositor do interior. e essa carreira precisava ser vivida nas cidades, juntos às gravadoras. Assim, enquanto a industrialização, na região sudeste, deslocava massas agrárias para as periferias das grandes cidades - onde suas formas culturais , arrancadas da origem, permaneceriam como marginais - , também o artista caipira devia deslocar-se de sua base cultural de inspiração para a cerveja das grandes cidades . · me dá uma cerveja .

    Um bar no largo do Paissandu, no centro da capital paulistana, é o ponto de encontro dos caipiras em São Paulo. mais do que por qualquer injunção da indústria fonográfica , seu sucesso depende de abandonarem as raízes .
 
Tião Carreiro e Pardinho, outra vez juntos.

Procurar novos caminhos, novas companhias, pode custar o que se fez por toda uma vida. ou melhor, duas vidas. dura lição, se dúvida, mas foi preciso aprendê-la por ousar duvidar. uma das mais tradicionais dupla da música regional brasileira se desfez por alguns caprichos. Uma carreira de quase 50 discos - todos ainda em catálogo - estremeceu. Deu tempo de voltar atrás. o custo: alguns anos atrasos e de sinceras maledicências que não se tornaram públicas . mas tudo voltou a ser como antes .   Tião Carreiro e Pardinho São personagens . O público que compra os discos, que vai aos circos, que faz a fama, não aceitou a separação proposta (exigida?) por uma empresário ávido para fazer Pardinho sair um pouco da sombra de Tião Carreiro acabava impondo. foi há cinco anos. a razão? Tião Carreiro crio o pagode. Um termo que significa dança no interior de São Paulo e no Brasil central. um ritmo alegre, quente, rápido ,que nasceu na década de 50 "cruzando a viola ". "eu sabia disso desde o começo. quase 30 anos de carreira, centenas de gravações fazem a gente saber o que vai acontecer. foi inevitável. 
O público não quis saber das novas duplas que formamos. Vendíamos centenas de milhares de cópias de cada discos, de repente, juntando tudo o que fizemos em cinco anos, não deu cem mil. voltamos atrás, ainda bem ." sóbrio, até demais, Tião Carreiro é quem sempre fala. Pardinho, o pequeno Pardinho, quase escolhido num canto, só concorda, faz acenos de cabeça, discretos. ele é quem mais sentiu a separação. Tião Carreiro conseguiu, por força de seu nome, gravar alguns discos como solista de viola, que teve inúmeros seguidores, dos quais se orgulha . mas fazia falta aquela voz pequena, inconfundível, de Pardinho .

    No final do ano passado, o retorno foi possível. já estava decidido há bom tempo, mas os vínculos com a gravadora de Pardinho impediram que tudo fosse decidido antes. eles não dizem abertamente , mas os pagodes que fizeram nesse tempo da separação não eram tão alegres como os anteriores. agora, na volta, uma promessa solene: "continuar na mesma linha de antes, onde não há só toadas, sem sofisticação, bem de raízes, sem apelação ."apelação, aliás, é uma palavra odiada por Tião Carreiro. Pardinho concorda com a cabeça . fazer o novo disco - e os próximos - como os anteriores, não é parar no tempo? pensar que tudo é como em Araçatuba dos tempos de Palmeirinha e coqueirinho? até hoje a mulher de Tião o chama de Palmeirinha, o segundo nome artístico que ele teve. o real? não importa. "não é nada nisso. não paramos nos tempos. Talvez, ao contrário, estivéssemos adiante. as letras das músicas, quase sempre o Lorival dos santos, um mito da música sertaneja, é quem faz. e não adianta passar pra frente uma música quente se não há uma letra que corresponda a ela. se a música está ligada às raízes, também a letra deve vir das condições do povo". se a parada ajudou os dois a perceberem a importância que um tinha para o outro e reconsiderar as razões dos sucessos que fizeram a fama - juntam-se aí, entre tantos, "rio de lágrimas", "pagode em Brasília", "alma do boêmio", "hoje eu não posso ir" - o novo disco que marcou i reencontro provou as teses, pelo menos eles garantem . e, dessa forma, além dos pagodes, "navalha na carne" traz alguns cururus, balanços e toadas. "um momento lembra Tião. tem também um tango. estranho? no começo nós fomos marcados por isso. foi para lembrar os anos 30 que se passaram. uma experiência - eu não disse que haveria pequenas mudanças - que vale apenas para este disco. com o tempo nós descobrimos que tangos, boleros e guarânias dão dinheiro para as gravadoras, não para nós. ninguém vai em circo para ouvir música lenta, triste. vai ao circo é para cair no pagode. e aí é que ganhamos" .
     Lourival dos santos ficou quieto algum tempo, só ouvindo. mas aí começa a falar, do modo cantado como se recitasse uma poesia que Tião vai musicar. "ele tem razão. suas convicções São firmes. ele acredita no que faz. Na sua música, na minha letra, na primeira voz do Pardinho. que sorte eu tenho em ter o Tião Carreiro prá cantar meus versos .
 
ALMIR SATER
Natural do Mato Grosso do Sul, tocava violão desde criança, mas só foi descobrir a viola caipira - instrumento que o celebrizou - no Rio de Janeiro, aonde foi estudar Direito. Desistiu de ser advogado e foi ter aulas com o violeiro Tião Carreiro. Mais tarde voltou para Campo Grande e formou a dupla Lupe e Lampião. Em 1979 foi para São Paulo e passou a acompanhar cantoras como Tetê Espínola e Diana Pequeno, além de integrar o show " Vozes & Violas". Seu primeiro disco, "Almir Sater", saiu pela Continental em 1981, sendo logo seguido por "Doma", pela RGE. Três anos depois montou a Comitiva Esperança, que viajou pelo pantanal mato-grossense pesquisando a música e os costumes da região. Depois de lançar outros discos e abrir o Free Jazz Festival de 1989, Sater atuou na novela "Pantanal", da TV Manchete, que o projetou nacionalmente, junto com sua música. Em seguida, continuou como ator, estrelando "Ana Raio e Zé Trovão", da mesma emissora. Afastou-se das novelas para se dedicar mais à música, lançando "Terra de Sonhos" em 1994, mas dois anos mais tarde voltou a atuar em "O Rei do Gado", da TV Globo.
 
IVAN VILELA
 
Ivan Vilela, mineiro, é formado em Composição pela UNICAMP.
Fez trilhas para filmes e peças de teatro, e também atuou como diretor musical.
Trabalhou como professor em festivais e ministrou oficinas com assuntos relacionados as violão brasileiro, história da MPB e viola caipira.
Há mais de dez anos pesquisa manifestações da cultura popular em Minas Gerais.
É autor de uma ópera caipira - Cheiro de Mato e de Chão - sobre libreto do poeta Jehovah Amaral.
Como instrumentista, compositor e arranjador realiza um trabalho com viola caipira. Atua também nos grupos Trem de Corda e Ânima. Periodicamente tem feito shows com o violeiro Paulo Freire e acompanhado o cantor e compositor Passoca.
Gravou em 1985 com Pricila Stephan o LP Hortelã - Ivan e Pricila. Em 1994, com o Trem de Corda e o Ânima o CD Trilhas que obteve duas indicações para o Prêmio Sharp 94. Em 97 gravou um CD com o Ânima. Ainda em 97, arranjou e fez a direção musical do CD Beira Mar Novo, do coral Trovadores do Vale, que trabalha com pesquisa e coleta de música da tradição popular do Vale do Jequitinhonha. Assina também a direção musical do CD Crisálida, do violeiro Roberto Corrêa, gravado em 96.
Em julho de 96, com o percussionista Dalgallarrondo e Iara, cantora caiçara do litoral norte do estado de São Paulo, representou o Brasil no Encontro Mundial de Embarcações e Marinheiros Brest 96, em Brest, França.
Atualmente, Ivan Vilela está musicando estórias infantis do escritor Rubens Alves, para a confecção de um CD, além de estar preparando o seu primeiro CD solo, a ser lançado em meados de 1998.
 

sábado, 13 de novembro de 2010

BIOGRAFIA VIDA E OBRA DE VALDIK SORIANO

Clique na imagem para ampliar
Waldick Soriano
* Caetité, Bahia, Brasil – 13 de Maio de 1933 d.C
+ Rio de Janeiro, Brasil, – 4 de Setembro de 2008 d.C
Nascido na Bahia, filho de Manuel Sebastião Soriano, comerciante de ametistas no distrito de Brejinho das Ametistas, em sua cidade natal. Fato marcante de sua infância foi o abandono do lar pela mãe, a quem era muito apegado.
Em Caetité viveu sua juventude, sempre boêmia, até um incidente num clube local, que o fez buscar o destino fora da cidade. Desde muito novo era um inveterado namorador e aventureiro e, seguindo o caminho de muitos sertanejos, foi tentar a vida em São Paulo.
Antes de ingressar na carreira artística, trabalhou como lavrador, engraxate e garimpeiro. Apesar das dificuldades, conseguiu se tornar conhecido nos anos 50 com a música “Quem és tu?”.
Ele se destacava por suas canções sobre dor-de-cotovelo e seu visual revolucionário para a época: sempre usava roupas negras e óculos escuros.
Seu maior sucesso foi “Eu não sou cachorro não”, que foi regravada em inglês macarrônico por Falcão. Também se tornaram conhecidas outras músicas suas, tais como “Paixão de um Homem”, “A Carta”, “A Dama de Vermelho” e “Se Eu Morresse Amanhã”.
O porta voz da dor de cotovelo, Waldick Soriano.
Um personagem que já está na história do Brasil, mesmo contra o nariz empoado dos pseudos intelectuais.
Para quem não lembra ou não tem nenhuma MP3 do Waldick Soriano (quase impossível), aqui algumas letras de músicas da lavra do bardo baiano:
Paixão De Um Homem
Amigo
Por favor leve essa carta
E entregue à aquela ingrata
E diga como eu estou
Com os olhos rasos d’água
E o coração cheio de mágoa
Estou morrendo de amor

Amigo
Eu queria estar presente
Para ver o que ela sente
Quando alguém fala em meu nome
Eu não sei se ela me ama
Eu só sei que ela maltrata
O coração de um pobre homem

Amigo
Se essa cartinha falasse
Pra dizer àquela ingrata
Como está meu coração
Vou ficar aqui chorando
Pois um homem
Quando chora
Tem no peito uma paixão

Ah! Vou ficar aqui chorando
Pois um homem quando chora
Tem no peito uma paixão

Torturas de Amor
Hoje que a noite está calma
E que minh’alma esperava por ti
Apareceste afinal
Torturando este ser que te adora
Volta fica comigo
Só mais uma noite
Quero viver junto a ti
Volta meu amor
Fica comigo não me desprezes
A noite é nossa
E o meu amor pertence a ti

Hoje eu quero paz
Quero ternura em nossas vidas
Quero viver por toda vida
Pensando em ti


Fafá de Belém canta Tortura de Amor um dos maiores sucessos de Waldick Soriano
Eu Não Sou Cachorro Não
Eu não sou cachorro não
Pra viver tão humilhado

Eu não sou cachorro não
Para ser tão desprezado
Tu não sabes compreender
Quem te ama
quem te adora
Tu só sabes maltratar-me
E é por isso que eu vou embora

A pior coisa do mundo
É amar sem ser amado
Quem despreza um grande amor
Não merece ser feliz
Nem tão pouco ser amado

Tu devias compreender
Que por ti, tenho paixão
Pelo nosso amor,
Pelo amor de Deus
Eu não sou cachorro não.


Vídeo – Eu não sou cachorro não
O “fenômeno” Waldick
A posição quase marginal que o ritmo “cafona” ocupou mereceu uma análise mais acurada e científica, já na 5ª edição, pelo historiador e jornalista Paulo César de Araújo.
Intitulado “Eu não sou cachorro, não – Música popular cafona e ditadura militar” (Rio de Janeiro, Record, 2005), a obra traz, já em seu título, uma referência a este cantor e sua música de maior sucesso. Ali o autor contesta, de forma veemente, o papel de adesista ao regime de exceção implantado a ferro e fogo no Brasil pelos militares, por parte dos músicos “bregas”. Waldick, segundo ele, é um dos exemplos, tendo sua música “Tortura de Amor” censurada em 1974, quando foi por ele reeditada. Apesar de ser uma composição de 1962, o regime não tolerava que se falasse a palavra “tortura”…
Patrícia Pillar fala da emoção de exibir seu filme para o público
Patricia Pilar dirigindo Waldick Soriano – Foto O Globo
“Me aproximei de Waldick como fã e, hoje, posso dizer que me sinto parte da família. Percorrendo o Brasil, vi o quanto ele era querido e derretia o coração das fãs. Waldick, além de ser um grande artista popular, era um homem amoroso e sempre tinha um olhar inteligente sobre as coisas. Com seu jeito divertido, conseguia falar direto ao coração. Waldick fará falta porque era um invasor de corações e a cara do Brasil”.
Por mais que role um friozinho na barriga, com o passar dos anos os atores se acostumam às estreias, certo? Não foi o que aconteceu com a consagrada, semana passada. Em entrevista ao EGO, ela conta que sentiu uma emoção diferente de tudo que já vivera na carreira ao fazer seu début como diretora no É tudo verdade.
Seu filme “Waldick, sempre no meu coração” foi visto pela primeira vez pelo público no festival, que vai até o dia 6, no Rio. “Fiquei comovida de ver como as pessoas receberam o filme. Elas riram, choraram, foi impressionante”.
O documentário, de 52 minutos, conta a história de Waldick Soriano, desde os tempos em que era garimpeiro até a sua consagração como um dos ícones da música popular brasileira. Patrícia, que está no elenco de “Juízo Final”, próxima novela das oito da Globo, diz que provavelmente voltará a dirigir. Parece que tomou gosto mesmo pela coisa…
EGO: Como foi apresentar seu filme para o público? Superou as suas expectativas?
Patrícia Pillar: Até mostrá-lo para o público, “Waldick” era uma viagem minha, solitária. Eu fiquei mais de dois anos fazendo o filme, nos intervalos dos meus trabalhos. E fiquei impressionada com a maneira como as pessoas o receberam. Elas riram, choraram… Eu consegui tocá-las e vi que consegui me comunicar, o que é muito bom. Foi comovente…
Mas você á é uma atriz consagrada. Ainda se emociona com estréias?
É diferente, esta foi a primeira vez que fiz um filme. Como atriz, seja na TV ou no cinema, quando você vê o resultado final já deu tempo de ter se distanciado do personagem. Já deu tempo de ter se separado dele. E no filme eu não senti isso, parecia que ele estava ali comigo ainda.
Pretende dirigir novamente?
Eu nunca fui documentarista. Resolvi fazer este filme porque a história do Waldick me interessou. E acabei dirigindo também seu DVD e seu show. Ainda tenho muito o que embalar esse filho, mas provavelmente voltarei a dirigir. Fui acalentando desejos ao longo da minha carreira, e a realização de ideias é um deles.
Quando ‘Waldick’ entra em cartaz nos cinemas?
Ainda nem pensei nisso, mas deve ser em um circuito alternativo. Foi tudo muito corrido, ainda tenho de ver uma distribuidora. O que posso dizer é que no dia 12 estaremos no Cine Ceará.
E hoje como está a sua relação com Waldick?
Nós ficamos amigos, volta e meia nos falamos. Agora vou encontrá-lo no Ceará.
A revista “Nossa História”, de dezembro de 2005, refere-se ao cantor como “o mais folclórico dos cafonas” (ano 3, nº26, ed. Vera Cruz).
Num dos programas do apresentador Jô Soares, o músico Ubirajara Penacho dos Reis – Bira – declarou que nos anos 60 tocava apenas os sucessos de Waldick.
Na sua cidade natal, Waldick sempre foi tratado com certo menosprezo. Aristocrática, Caetité mantinha apenas nas camadas mais populares uma fiel admiração. Ali teve dois de seus filhos, gêmeos, de forma quase despercebida, em 1966. Em meados da década de 90, porém, a cidade teve num político o resgate do filho ilustre. O vereador Edilson Batista protagonizou uma grande homenagem, que nomeou uma das principais avenidas com o nome de Waldick. Pouco tempo depois, o SBT realizava ali um documentário, encenado por moradores locais, retratando a juventude de Waldick, sua paixão pela professora Zilmar Moura, a mudança para o sul.
Sílvio Santos aliás, protagonizou com Waldick uma das mais inusitadas cenas da televisão brasileira: no abraço que deram, foram perdendo o equilíbrio até ambos caírem, abraçados, no chão. Ali, então, simularam um “affair”, provocando risos na platéia.
Por tudo isto, Waldick Soriano faz-se símbolo, no Brasil inteiro, de um estilo, de uma classe social, e da sua manifestação cultural, pulsante e criativa.
“Waldick era o nosso último beatnik. Ninguém cantou as dores de amores do Brasil como ele. Era um poeta que escrevia suas canções com sangue e fel. Com ele morre um Brasil.” ZECA BALEIRO, Cantor e compositor.
Primeiro LP em vinil
A voz das estradas
Sebastião Nery – Tribuna da Imprensa
Estava em Jaguaquara, minha pequena e querida cidade do interior da Bahia, em 1958, quando o Serviço de Alto-Falantes Nossa Senhora Auxiliadora anunciou que o cinema, fechado há uma semana por falta de filme, estaria aberto naquela noite para apresentação de um cantor de sucesso, chegado de Minas, “A Voz das Estradas”.
Oito da noite, não havia mais um lugar vazio. No palco, apenas uma cadeira e uma mesinha, com uma garrafa de uísque nacional e um copo vazio. Aparece um rapaz magro, alto, cigarro no dedo, físico de estivador, cara agressiva, de chapéu, o antiartista. Mas com um violão na mão.
O cantor
- Meus senhores e minhas senhoras, lindas jovens desta cidade simpática. Vocês não me conhecem. Talvez nunca tenham ouvido falar em meu nome. Eu sou um cantor do povo. Minha vida é ir de cidade em cidade, do norte ao sul, cantando em todo lugar, por menor que seja. Hoje, me chamam “A Voz das Estradas”. Não apareço nas televisões, porque televisão é para cantor que tem máquina de propaganda montada, e eu não tenho.
Também as rádios quase não tocam meus discos, porque não tenho dinheiro para pagar. Mas não há serviço de alto-falante que não tenha um disco meu. Por isso, eu mesmo pago para fazer meus discos e saio vendendo de cidade em cidade. Depois desse espetáculo, quem quiser ficar com um de lembrança, pode me procurar aqui no palco. Quero apenas que ouçam minha música em silêncio e guardem meu nome, porque ainda vou ser um grande cantor de sucesso, custe o que custar. Eu sou Waldick Soriano.
Waldick Soriano
Ganhou logo uma salva de palmas de mãos cheias, agradecidas por aquele inesperado cinema que não iam ter. E cantou. Cantou a noite inteira, sem parar. Meia-noite ainda estava de pé, violão no peito, chapéu na testa, andando de um lado para o outro e cantando pela terceira, quarta vez, sob palmas unânimes, principalmente da garotada, os números de sucesso, as músicas que eram o carro-chefe do espetáculo:
“Pobre do pobre”, história do rapaz do interior que não pôde casar com a namorada rica porque era pobre, “Eu não sou cachorro não”, lamento de uma história parecida. Anos anos depois, Waldick Soriano apareceu no Rio e São Paulo como um grande cartaz. Chapéu na cabeça, cara agressiva, invadiu as televisões, o rádio e o society, como tinha prometido dez anos antes.
O camelô
Nascido em Caetité, no sertão da Bahia (terra de Anísio Teixeira), foi para Minas tentar a sorte. Em 1952, em Belo Horizonte, lapidava pedras semipreciosas de manhã, e à tarde era camelô. Camelô como foi Sílvio Santos. Durante muitos anos, Nelson Gonçalves foi o cantor dos cabarés e serviços de alto-falante do Brasil. O trono passou para o camelô Waldick.
Gervásio Horta, vitorioso compositor mineiro, parceiro de alguns dos maiores sucessos de Waldick, acha que o segredo dele foi o machismo:
- A vida artística brasileira é muito refrescada demais. Como Jece Valadão no cinema, Waldick fez o machão no microfone. Ficou dono do campo. A linha de suas músicas é toda essa: “Paixão de um homem” (”Amigo, por favor leve essa carta”…), “Eu também sou gente”. Compus agora para ele “Desligue o seu rádio”. Mais do que o artista sedutor, ele é o cantor do povo que veio por aí pelas estradas, de cidade em cidade.
O revólver
Waldick era exclusivo da gravadora Chantecler. Em 65 achou que estava sendo roubado. Trancou-se com o diretor numa sala, tirou o revólver:
- Ou assina o meu cheque ou morre.
Saiu com o cheque. Dentro de um café society de cheques frios ele tinha que fazer furor. Era um cheque quente. O machão do society carioca.
“O Pasquim”
Esse texto aí em cima eu o escrevi em 1972, para a abertura de sua entrevista de capa ao “O Pasquim”, edição 155, de junho de 72:
“Waldick Soriano, de Caetité para o mundo”.
Quando ele começou, a televisão mal começava, era tudo no rádio, comandado do Rio e São Paulo. Não havia João Gilberto nem a bossa nova ao piano e ao violão, nos becos e garrafas de Copacabana. Não havia os Luciano e Leonardo, filhos de Francisco, nem os chorosos Xitãozinho e Xororó. Eram só o violão, a estrada e a garganta. E uma cidade e um show por noite. E ele todo vestido de preto, com seu chapéu preto.
Patricia Pillar
Há algum tempo ele estava por Teresina, com a diretora do balé do Teatro do Piauí. Sempre com um uísque e um cigarro. E o vozeirão do povão. Sempre cantando, sempre fazendo shows. Ainda bem que o profissionalismo e a sensibilidade de Patricia Pillar perpetuaram em vídeo sua voz, seu charme, o sorriso zombeteiro, o jeitão de bom baiano do sertão.
Estroinamente como meu amigo viveu, 75 anos foram um bom saldo.
Doença
Waldick teve diagnosticado um câncer de próstata em 2006. Em 2 de julho de 2008 foi divulgado que seu estado de saúde era grave, pois já ocorrera metástase da doença.
Veio a falecer em 4 de setembro no Instituto Nacional do Câncer (Inca), em Vila Isabel, zona norte do Rio de Janeiro.
Gravou 80 discos e compôs 500 músicas
Discografia - principais discos
Quem és tu?/Só você
Ninguém é de ninguém
Dona do meu coração/Mais uma desventura
Perdão pela minha dor/Amor de Vênus
Sede de amor/Renúncia
Waldick Soriano
Fujo de ti/Tortura de amor
Ciúmes/Desunião
Homenagem a Recife/Amor numa serenata
Cantor apaixonado
Quem é você?/Vestida de branco
Foi Deus/Errei Senhor
Pobre do pobre/Se eu morresse amanhã
Motivos banais/É melhor eu ir embora
A justiça de Deus/Tu és meu mundo
Manaus, meu paraíso/Pisa no calo dele
Enfim você voltou/Pensei que estava sonhando
Eu vou ao casamento dela/A maior injustiça do mundo
O elegante Waldick Soriano
Como você mudou pra mim
Waldick sempre Waldick
Boleros para ouvir, amar e sonhar
Waldick Continental
No coração do povo
Eu também sou gente
Ele também precisa de carinho
Segue o teu caminho
Quero ser teu escravo
Vídeo – Waldick Soriano, ” O Cara!”Os cafonas do AI-5
Os Cafonas do AI 5Fonte: sambachoro.com.br
Waldick Soriano teve música proibida por causa da palavra ‘tortura’. De tanto ser censurado, Odair José preferiu deixar o país. Benito di Paula quis saber o que fizeram com Vandré. Conheça a face oculta dos bregas. A História como a fase mais dura do governo militar. De 1968 a 1978 vigorou o Ato Institucional nº 5, que fechou o Congresso, cassou mandatos e bloqueou direitos constitucionais.
Naqueles anos, a cultura fez o que pôde para garantir espaço e divulgar idéias. Mas teatros eram invadidos por causa peças tidas como subversivas. O cinema enfrentava tarjas pretas tapando closes imorais.
A música marcou presença na resistência à ditadura com através das letras de Geraldo Vandré, Chico Buarque, Gonzaguinha e, aqui vem o espantoso, cantores cafonas como Benito di Paula, Odair José e Waldick Soriano.
A partir de uma série de reportagens que tem como base o livro Eu não sou cachorro, não (música popular cafona e ditadura militar), do
historiador Paulo César de Araújo, lançado pela editora Record e nas lojas a partir desta semana. Em 480 páginas, o autor percorre os principais
fatos e personagens dos anos 70, valendo-se da obra de cantores e compositores que na época foram e até hoje são identificados à cafonice.
O livro defende que aquela geração de cantores românticos não era tão alienada quanto parecia. Nelson Ned, Claudio Fontana, Benito di Paula,
Fernando Mendes e Lindomar Castilho também fizeram canções de protesto futucar temas sociais e políticos.
Comumente esquecidos ou menosprezados, eles também refletiam, em suas letras, a confusão ideológica e o clima dos anos de chumbo. O livro reproduz em suas páginas documentos inéditos que revelam a censura sofrida por esses cantores. Um dos campeões de veto Odair José – na maioria das vezes, calado por questões de ordem moral.
A proibição podia ter motivos esdrúxulos. Waldick Soriano teve um bolero romântico censurado em 1974 só por causa do título: era Tortura de amor, que ele havia composto em 1962 e deu de regravar logo no período mais fechado de um regime que produziu grande número de desaparecidos.
Eu não sou cachorro, não vai além da cafonália e, num movimento inverso, recupera histórias de adesão da elite da MPB ao regime dos generais, flagrando em momentos suspeitos artistas ligados à tradição, à nobreza e à intelectualidade da música brasileira. sambista Leci Brandão, hoje engajada em movimentos contra a discriminação de minorias, fez em 1972 um samba em que dizia “nada sei de preconceito”, falando numa perfeita integração racial saudando o “amigo branco da rua”.
Jorge Ben, que sempre cobrado por ter composto País tropical, um discurso exaltativo demais para aquele 1969, foi até mais fundo: no ano seguinte, assinou letra música de Brasil, eu fico, resposta de carneirinho ao slogan Brasil, ame-o ou deixe-o”, bordão do governo Médici.
Quando reflete sobre essa espécie de inversão de valores, Paulo César de Araújo questiona a produção historiográfica relativa à música brasileira e acaba apontando erros cometidos pelos memorialistas. Segundo o autor, este limbo da História onde os cafonas acabaram parando foi provocado por uma junção de preconceito e pesquisas mal-feitas.
Nos últimos dez dias, o JB enviou provas de prelo do livro a historiadores, professores de História, jornalistas e pesquisadores musicais citados no seu texto, como Ricardo Cravo Albin, Heloísa Buarque de Hollanda, Marcelo Fróes e Chico Alencar.
Todos leram pelo menos alguns capítulos do livro, poucos fizeram reparos ou observações, a maioria adotou um discurso na base do desculpe-a-nossa-falha.
“Meus próximos livros terão que ser revistos”, diz Chico Alencar, professor de História da UFRJ e deputado estadual pelo PT.
Compositores como Caetano Veloso e Chico Buarque também puderam ter acesso ao livro, através do JB (depois, o leitor verá as críticas à obra ou o mea culpa de cantores e historiadores questionados no texto).
Eu não sou cachorro,não,que surgiu como tese de mestrado na UNI-Rio em 1997, pode ser enquadrado dentro de uma corrente relativamente nova no estudo acadêmico, que ganhou força no Brasil a partir do fim dos anos 80 e mais recentemente com o lançamento por aqui de coleções como História da vida privada, da Companhia das Letras.
É a escola de franceses como Georges Duby, Jacques Le Goff e Michelle Perrot (esta, especialista em setores subalternos da sociedade). São autores que defendem a investigação dos vácuos de memória, realizada a partir da pesquisa não dos heróis ou dos grandes fatos, mas dos pequenos feitos, que ganham assim nova dimensão histórica. “O lançamento deste livro é um grande acontecimento”, diz o cantor e compositor Caetano Veloso, classificando-o como “genial, uma das melhores obras sobre música dos últimos tempos”.
A euforia de Caetano é explicável. Mais do que ninguém em sua área, ele é ferrenho questionador dos “significados perversos” que a sigla MPB costuma carregar, afastando os artistas mais populares da turma que faz sucesso junto à classe média e à elite. Já o compositor Chico Buarque desconfia que o livro não seja sério.
Lembre que geração foi essa
O livro foca a sua narrativa nas histórias de um determinado núcleo de cantores classificados pelo autor como a “segunda geração de cafonas”. É a geração que fez sucesso entre 1968 e 1978. Suas figuras mais importantes são Odair José, Waldick Soriano, Nelson Ned e Paulo Sérgio.
Houve um primeiro grupo de cantores românticos identificados à cafonice, no fim dos anos 50, como Anísio Silva e Orlando Dias. E ainda um terceiro movimento, com apogeu no fim dos anos 70, incluídos aí Sidney Magal, Giliard e a dupla Jane & Herondy. A seguir, um breve perfil dos cafonas do AI-5.
ODAIR JOSÉ – Autor de Pare de tomar a pílula, Vou tirar você desse lugar (narrando a paixão por uma prostituta) e Deixe essa vergonha de lado (para domésticas). Odair era o “terror das empregadas”.
WALDICK SORIANO – Entre os cafonas, talvez seja o mais cafona. Estava sempre de chapéu e óculos escuros. É autor do bolero Tortura de amor
(”Hoje que a noite está calma/ e que minh’alma esperava por ti”) e da canção que dá título ao livro de Paulo Cesar de Araújo, Eu não sou
cachorro, não.
NELSON NED – O primeiro LP do mineiro Nelson Ned tentava explorar o seu nanismo, com o título Um show de 90 centímetros. O livro conta uma história pouco conhecida: antes de gravar o LP, Ned havia tentado se enturmar com os compositores do Clube da Esquina, freqüentando a casa de Lô Borges. Foi bem aceito mas nenhuma parceria se concretizou. Seu maior sucesso é a balada Tudo passará. Ned tem uma importante carreira no exterior. Em 1993, entrou para a igreja evangélica.
PAULO SÉRGIO – Iniciou a carreira em 1967, imitando Roberto Carlos. Tinha voz e visual parecidos com os do Rei. Entre suas gravações mais conhecidas está A última canção. O livro enxerga Paulo Sérgio como o deflagrador de um estilo, espécie de pioneiro da geração cafona dos tempos do AI-5. Morreu em 1980. Seu túmulo no Caju até hoje é muito visitado no Dia de Finados.
AGNALDO TIMÓTEO – É provavelmente o mais famoso dos cafonas, até porque também fez carreira política. No livro, aparece com destaque um grupo de canções de Timóteo que abordam a temática homossexual. Participou recentemente do reality-show Casa dos artistas.
BENITO DI PAULA – Vestido como cigano, de brinco e calça de boca larga, Benito escreveu Charlie Brown, Retalhos de cetim e Tudo está no seu lugar. O tipo de música que faz costuma ser tachado de sambão jóia, termo que o afasta dos autores de samba de raiz.
OUTROS – A dupla Dom & Ravel, da marcha Eu te amo, meu Brasil, Luiz Ayrão, Lindomar Castilho, Fernando Mendes, Claudio Fontana, Claudia Barroso, Reginaldo Rossi,Carmen Silva e o Wando de antes da fase obsessivamente obscena.
Algumas letras proibidas e a razão de cada veto
Tal como Geraldo Vandré ou Gonzaguinha, os cantores populares românticos tiveram dezenas de canções proibidas. Os motivos eram os mais diversos: enxergavam-se nas letras temas políticos perigosos, havia um clima de forte repressão moral e em alguns casos a censura não passava de pura perseguição. O livro Eu não sou cachorro, não conta as histórias destes vetos e apresenta documentos que permaneciam intocados nos arquivos públicos do Rio e de Brasília, e que revelam como o governo quis calar também os cafonas durante o período do AI-5.
UMA VIDA SÓ – Letra, música e gravação de Odair José (1973)
Trecho
“Todo dia a gente ama/ mas você não quer deixar nascer/ o fruto desse amor/ pare de tomar a pílula/ porque ela não deixa o nosso filho nascer”
Uma pílula perigosa
A balada Uma vida só, mais conhecida pelo verso “pare de tomar a pílula”, teve sua execução proibida nas rádios. Na época, o regime militar
patrocinava uma entidade chamada Bemfam (Sociedade Civil Bem-Estar Familiar no Brasil), desenvolvendo pesada campanha de controle de
natalidade. Seus boletins tinham ensinamentos como “é preciso frear a proliferação da infância abandonada no país, que contribui para a poluição social e sanitária”.
O governo achava que o bolo do PIB devia ser dividido por menos gente. Não tomar pílula e engravidar, portanto, era como participar de um ato contra o regime. Odair foi parar na polícia e sofreu boicote do apresentador Chacrinha. Empresários de laboratórios farmacêuticos o procuraram oferecendo dinheiro para calar a canção.
Uma vida só foi liberada em 1979. A Bemfam virou ONG e existe até hoje, agora doando preservativos. Por ano são vendidas 110 milhões de cartelas de anticoncepcionais no país.
MEU PEQUENO AMIGO – Letra, música e gravação de Fernando Mendes (1974)
Trecho
“Sem querer você se foi/ e hoje choram por você/ até as flores do jardim entristeceram/ digam pra mim onde ele está/ o que fizeram com meu pequeno amigo?”
Seqüestro de duplo sentido
O que seria apenas uma homenagem a Carlos Ramirez Costa, o Carlinhos, garoto seqüestrado no Rio meses antes, pareceu aos olhos dos censores uma canção de cunho político. A sua letra foi apresentada ao Departamento de Censura no início de 1974 e liberada com a recomendação de que fosse impresso no disco o subtítulo Tributo a Carlinhos. Mas as rádios começaram a tocar demais e veio uma repentina ordem de proibição.
Segundo relatórios do projeto Brasil: nunca mais, é justamente no período de 1973/1974 que se registra o maior número de desaparecidos políticos no país. Fernando Mendes, o autor de Meu pequeno amigo (e também do hit Cadeira de rodas), poderia estar lamentando o sumiço de algum companheiro subversivo. Longe disso: a canção era de fato um tributo a Carlinhos. O crime ganhou espaço na mídia, a foto daquele lourinho sorrindo foi amplamente divulgada na TV, mas ele jamais voltou.
TREZE ANOS – Letra, música e gravação de Luiz Ayrão (1977)
Trecho
“Há treze anos eu te aturo e não agüento mais/ não há cristo que suporte e eu não suporto mais/ você vem me sufocando como o próprio gás”
Disfarçando no título
Os censores repararam que a letra de Treze anos era provocativa. Afinal, a música foi lançada em 1977, quando os militares comemoravam os 13 anos da Revolução. O LP de Ayrão foi bloqueado ainda na fábrica. Pressionado pela gravadora a dar um desfecho para o problema, o autor tomou a seguinte decisão: mandou a letra a uma outra divisão da censura, sem alterar uma vírgula sequer, trocando apenas o nome da canção para O divórcio.
Liberaram. Ayrão conta que, tempos depois, o disco chegou às mãos do general Fernando Bethlem, ministro do Exército. Após ouvir O divórcio, o oficial teria esbravejado com os funcionários da Censura: “Esse cara nos sacaneou e vocês deixaram!” O mesmo LP de Luiz Ayrão ainda teria mais um problema antes de ser liberado: O chorinho Amigo Chico permaneceu vetado até que o artista fez ver aos censores que a música inspiradora de sua obra, o choro Meu caro amigo, de Chico Buarque, estava tocando nas rádios e à venda, normalmente, nas lojas.
ANIMAIS IRRACIONAIS – Letra e música de Dom, gravada por Dom & Ravel (1974)
Trecho
“É a luta dos seres humanos, um grande açoitando um pequeno/ terceiros mandando apartar/ na maioria das vezes o grande não quer parar”
Contra a corrente pra frenteO regime militar propagava a idéia da união de todos em prol de um objetivo comum, o que costumava-se chamar de “corrente pra frente”. Por causa da música Animais irracionais, que registrava um quadro social de luta entre opressores e oprimidos, os irmãos Dom e Ravel foram intimados a comparecer na polícia. Dom conhecia um coronel que tinha um parente atuando na área jurídica da Divisão de Censura da PF em Brasília. Só com esse pistolão o compositor pôde defender pessoalmente a música.
Foi à capital e jogou uma lorota: falou aos censores que se tratava “de uma música em solidariedade ao povo judeu, tão perseguido em vários momentos da história”. Colou. Ela foi liberada em questão de dias.
“Mas a música era sobre o Brasil mesmo”, afirma Dom no livro. Procurado pelo JB, Ravel enviou um fax à Redação com mais uma análise sobre a letra: “Ela falava da violência dos mais fortes sobre os mais fracos e do desvio dos recursos financeiros pelas mãos de egoístas desregrados.”
Estranho, bizarro, inacreditávelO historiador Paulo César de Araújo reuniu histórias curiosas e situações surpreendentes envolvendo cantores e compositores populares, sempre os relacionando com os principais fatos musicais e políticos da época do AI-5. Eu não sou cachorro, não procura demonstrar que era tênue a linha que separava o universo cafona dos setores mais elitizados e combatentes da MPB.
“Os dois ambientes se freqüentavam muito”, diz o autor. As histórias às vezes são tão esdrúxulas que parecem ter sido retiradas de um roteiro do programa Casseta & Planeta.
LINDOMAR NO MPLA
O bolerista Lindomar Castilho lançou em 1974, no Brasil e em alguns países da África, o merengue Eu canto o que o povo quer (”estou com a maioria/ para o que der e vier”).
A música chegou a Angola no momento da guerra de independência. Virou uma espécie de hino dos ativistas do MPLA, Movimento Popular de Libertação de Angola. Lindomar era tão benquisto ali que construíram uma estátua em sua homenagem no Departamento Cultural de Luanda. Angola conquistou sua independência de Portugal em 1975.
DOM TROPICALISTA
A dupla Dom & Ravel tem uma história anterior ao sucesso de Eu te amo, meu Brasil. O projeto inicial da gravadora RCA era unir os irmãos ao movimento da Tropicália, colocando-os esteticamente ao lado de Caetano Veloso e Gilberto Gil. O primeiro disco da dupla, lançado em 1969, tinha faixas como Desvio mental, uma letra nonsense de Dom cheia de aliterações (”atrás das portas/ moscas mortas”), num arranjo com guitarras e vozes distorcidas ao estilo dos Mutantes.
BENITO BUSCA VANDRÉMeio perdida entre as faixas do lado B do disco Benito di Paula ao vivo, de 1974, a música Tributo a um rei esquecido era uma homenagem de Benito di Paula – cigano, cafona e ícone do sambão-jóia – a um dos artistas mais perseguidos pelo regime militar: Geraldo Vandré, autor de Pra não dizer que não falei de flores.
Na época circulava um comunicado da Polícia Federal proibindo “qualquer notícia, comentário ou referência” ao nome de Vandré. Benito sabia disso. Escapou da censura valendose de imagens contidas na canção Disparada, de Vandré e Théo de Barros, como a referência à palavra “rei” (”boiadeiro, já fui rei”).
A canção de Benito parecia se preocupar com o estado depauperado de Vandré, que voltara ao país depois de uma longo exílio: “Ele disse um poema para um poste, me vieram lágrimas/ o que fizeram com ele não sei/ só sei que esse trapo, esse homem, ele um dia foi rei.”
FONTANA NO OPINIÃO
Claudio Fontana é autor de O homem de Nazareth e Doce de coco.
Antes disso tudo, em 1965, ensaiou Carcará dias a fio para estrear no show Opinião – um marco artístico importante na resistência ao regime militar. Ele conhecia o compositor José Cândido, parceiro de João do Vale em Carcará, uma das canções do espetáculo.
Com a doença da estrela do show, Nara Leão, Fontana foi estimulado por Cândido a se apresentar a João do Vale. Decorou a letra, mas o encontro entre os dois foi um desastre.
“O João do Vale estava bêbado, caindo pelos cantos igual uma porca. Não falou comigo direito”, lembra Fontana. Nara acabou substituída por Suzana de Moraes e mais tarde por Maria Bethânia, que despontaria dali para o sucesso.